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    13 de setembro de 2015

    OPERAÇÃO "VIRIATO" II

    "Mas que estucha, Botelho!"
    O ministro da Defesa, general Júlio Botelho Moniz, tem em marcha um golpe de Estado. Pretende substituir Salazar por Marcelo Caetano para "modernizar" o regime e, sobretudo, encontrar uma solução para as colónias. A conspiração é abafada ainda antes de eclodir, mais por inépcia dos golpistas do que por mérito dos fiéis salazaristas. Botelho Moniz entende que deve dar uma oportunidade ao Presidente da República, almirante Américo Tomás, para demitir Salazar - e assim evitaria todos os incómodos de um golpe. Pede para ser recebido.
    Moniz e Tomás eram amigos. Em privado, tratavam-se por 'tu', desde que se conheceram jovens cadetes na Escola de Guerra. O ministro da Defesa diz ao Presidente que tem um dia para demitir Salazar - caso contrário, levaria por diante um golpe de Estado de consequências imprevisíveis. Tomás, afundado no maple, escuta-o em pânico. Bate com as mãos nos joelhos - e desabafa alarmado: "Mas que estucha, Botelho!".
    Mal o general abandona o Palácio de Belém, o Presidente da República corre para o telefone e põe Salazar ao corrente. O chefe do Governo não perde tempo: demite Botelho Moniz e assume a pasta da Defesa Nacional. Num discurso transmitido pela rádio e televisão, em 13 de Abril de 1961, Salazar explica as mexidas no Governo. A mudança, diz, justifica-se com uma única palavra e, essa palavra é Angola. Termina com uma exaltação: "Para Angola, rapidamente e em força".
    Abafada a tentativa de golpe militar, conhecida como "Abrilada", o presidente do Conselho e ministro da Defesa Nacional mobiliza os primeiros grandes contingentes para Angola. As tropas embarcam com pompa e circunstância no cais da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa. Os primeiros batalhões, transportados no paquete Niassa, chegam a Luanda no dia 1º de Maio, uma segunda-feira.
    O governador de Angola, Silva Tavares, e o comandante militar da província, general Monteiro Libório, são demitidos e mandados regressar a Lisboa. Avança para Luanda o general Carlos Silva Freire, militar que nunca saíra dos gabinetes e nunca experimentara os rigores dos trópicos: tinha como credenciais o prestígio de professor nos cursos de Estado-Maior e a cega fidelidade ao regime. Recusara participar na tentativa de golpe de Botelho Moniz a quem, de resto, lhe reconhecia escasso mérito militar: "É o melhor segundo-comandante do mundo, mas eu não lhe dava nem o comando de um pelotão".
    © Direitos reservados

    General Júlio Botelho Moniz
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    Teve importantes responsabilidades militares e políticas no século XX em Portugal, tendo sido um dos participantes na revolução do 28 de Maio. Foi Observador na Guerra Civil de Espanha e na Frente Leste na Segunda Guerra Mundial, Ministro do Interior, Adido Militar em Madrid e em Washington, professor no Instituto de Altos Estudos Militares, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e Ministro da Defesa. Liderou em 1961 a mais importante revolta militar contra o Estado Novo, numa tentativa de evitar as Guerras do Ultramar. No contexto da Guerra Fria, que à época condicionava as relações internacionais, procurava posicionar Portugal no concerto das Democracias Parlamentares Ocidentais.

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