Menu

Drop Down MenusCSS Drop Down MenuPure CSS Dropdown Menu
  • PÁGINA INICIAL
  • HISTORIAL
  • CURSOS PQ
  • O
  • O
  • O
  • Barra Crachás

    Barra Crachás

    5 de setembro de 2015

    ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTAS RELATOS III

    Rosa Serra
    Alf.Enfª.Parqª


    As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas
    As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares.



    Enfermeira Pára-quedista Maria Zulmira

    Agora o meu olhar vai para a Enfermeira Zulmira que esteve tanto tempo na
    Guiné e de quem, com certeza, muita gente conhece. Não me vou referir ao
    seu desempenho como enfermeira, mas apenas ao seu perfil humano e de
    certeza que todos concluirão como era ela como enfermeira pára-quedista.


    Falar da Zulmira é como falar de um ser especial. Eu acho mesmo que ela é
    um anjo disfarçado em gente da Terra. Ela é compreensiva como poucos,
    apaziguadora como ninguém, fala com as mãos e vê com olhos de raio X o
    que se passa na alma do ser humano.

    Se não estivesse a trabalhar era distraída e fazia coisas que nos fazia
    rir. Nas horas de descontracção alinhava sempre nas brincadeiras, mesmo
    se fardada e em ambiente militar.

    Na Guiné, na hora do almoço e se não estivéssemos no ar, geralmente
    íamos as duas almoçar ao BCP12. Púnhamos a boina no cocuruto da cabeça e
    riamos como colegiais pelas diversas reacções dos páras que se cruzavam
    connosco.

    Um dia resolvi “roubar” uma bicicleta que andava por lá pelo BCP12, não
    sei bem a quem pertencia, penso mesmo, que era usada por quase todos. A
    Zulmira ficou de atalaia para ver a reacção da pessoa que a deixou à
    porta da messe enquanto almoçava, acaso saísse e não a encontrasse,
    enquanto eu fui dar uma volta com ela pela unidade observando o ar de
    quem presenciava a cena. Alguém tirou uma fotografia e me ofereceu para
    imortalizar o momento.


    EnfParaq. Rosa Serra

    Divertiamo-nos com essas pequenas provocações, diria mesmo parvoíces infantis que se calhar ninguém ligava, mas que a nós nos fazia rir e nos punha bem dispostas com vontade de dar uma cambalhota se houvesse uma nesga de relva por perto. O certo é que estas pequenas brincadeiras
    suavizavam alguns dos momentos mais dolorosos vividos e nos davam alegria.

    A Zulmira hoje, a esta distância da juventude de então, continua a ser
    um Ser Humano ainda mais maravilhoso, de sentimentos puros, que escuta
    as lamentações dos outros, mima a alma ferida de quem sofre, apazigua
    quando as emoções se revelam agitadas dos magoados pelas amarguras
    inesperadas da vida e sem se aperceber o quanto faz bem aos outros,
    continua a ser aquele anjo feito gente que se projecta no outro
    acreditando no ser humano, desculpando comportamentos e levando-nos a
    saber perdoar a quem nos ofende, de uma forma tão generosa e solidária
    que chega a ser comovente.

    Tem uma fé inabalável, que não impõe a ninguém, limita-se quando fala
    dela a dizer que Deus é seu amigo e que lhe pede para quando fizer a
    travessia (palavra dela) Ele esteja lá, para lhe dar a mão e que também
    gostava que a mãe e avó estivessem presentes para a acolher.

    Com perfeita noção que a morte é inevitável, não a incomoda falar dela,
    no entanto há pouco tempo passou mal e quando nos encontrámos após a
    crise, disse-me com o ar mais normal da vida e sem qualquer ar de
    lamechice: “hoje estou aqui, mas há dias atrás, pensei que tinha chegado
    a hora da travessia e ainda por cima tive medo.”

    Situações houve em que todas nós fizemos preces por aqueles que sofreram
    os horrores da guerra, naturalmente umas mais que outras, mas eu tenho
    quase a certeza que a Zulmira, com essa intimidade que tem com Deus,
    deve estar em n.º 1 pela sensibilidade que tem com o sofrimento dos
    outros. As pessoas que a conhecem bem, sabem que ela é assim, mas sem
    ponta de “beatice” supérflua ou inútil.

    Tenho muita pena das minhas capacidades literárias serem diminutas o que
    me impede de descrever como é a minha amiga Zulmira como ser humano,
    pois merecia uma narração mais elaborada pois ela é um poema em forma de
    mulher.

    Rosa Serra
    Ex-Enfermeira Pára-quedista



    Rosa Serra (à esquerda) e Zulmira (à direita) entre camaradas pára-quedistas
    na mata da Guiné em operação onde ambas participaram o dia inteiro.
    No dia anterior também a enfermeira Manuela e a Enfermeira Rosa Exposto
    acompanharam os mesmos militares. Que eu saiba fomos os único caso, de
    enfermeiras andarem mesmo em terra, durante todo o dia. Se alguém tiver
    interesse em saber porquê, explicarei noutra oportunidade.

    Sem comentários:

    Enviar um comentário