O Departamento da Defesa Militar
Em 1950, foi criado o Departamento da Defesa Nacional funcionando junto da Presidência do Conselho de Ministros. As suas atribuições diziam respeito ao tratamento das questões gerais da defesa do País, à intervenção na distribuição pelas Forças Armadas das dotações financeiras a estas globalmente consignadas, à superintendência em organismos não afectos ou desafectos do Exército e da Armada, e à coordenação dos Ministérios do Exército e da Marinha, dado existirem, na época, apenas esses dois ramos das Forças Armadas.
O respectivo Ministro, o Ministro da Defesa Nacional, era assistido por um órgão de estudo e parecer, o Secretariado-Geral da Defesa Nacional. O primeiro Ministro da Defesa Nacional, o então Coronel Fernando Santos Costa, desde logo se lançou em não poucas iniciativas tendentes à actualização e aperfeiçoamento das Forças Armadas.
Entre tais iniciativas distinguiram-se a criação da Força Aérea Portuguesa e, nesta Força Aérea, a criação das Tropas Pára-quedistas. Porém, estas duas iniciativas não foram pacíficas, tendo deparado com fortes reacções.
A Força Aérea Portuguesa
A criação da Força Aérea, baseada de início na fusão num único organismo da Aviação do Exército e da Aviação Naval, e implicando, assim, a extinção destas duas aviações com carácter de independência, deu lugar a opiniões, a excitações e a paixões totalmente antagónicas. O Exército, principalmente os seus oficiais de aviação, apoiavam com entusiasmo a criação das Força Aérea, já existente em todos os países progressivos, considerando-a como a conquista de tão desejada individualização do ramo aéreo e da sua equiparação aos outros ramos. A Marinha, como todos ou quase todos os seus oficiais, pelo contrário, opunha-se, da forma mais veemente, ao que considereava ser a amputação da Armada de um seu braço que julgava fundamental, a Aviação Naval, existente em todos os grandes países. A discussão agudizou-se, tendo-se estendido à própria Assembleia Nacional.
Contudo, o Ministro da Defesa Nacional, atendendo à impossibilidade do País sustentar mais de uma aviação, tudo conseguiu vencer, embora não sem dificuldade e com muita luta. E, em 1952, a Força Aérea Portuguesa, de começo limitada a pouco mais do que resultou da fusão das Aviações do Exército e Naval, foi efectivamente criada, tendo-se, após estudo criterioso, encontrado fórmulas justas para a intercalação e hierarquização dos oficiais, e outros militares, oriundos de quadros diferentes.
As Forças Armadas Portuguesas passaram a conter os três ramos militares, hoje clássicos - Exército, Armada, e Força Aérea.
As Tropas Pára-quedistas
Desde sempre, nas Forças Armadas e sobretudo no Exército, houve divergência sobre as vantagens e inconvenientes, a justiça e injustiça, dos dois tipos de estruturas militares seguintes: a primeira, caracterizada pele existência exclusiva de forças uniformes de mediana preparação e com iguais privilégios ou regalias; a segunda, caracterizando-se pela coexistência, por um lado, de corpos de forças especiais, de pequenos efectivos, altamente preparadas e gozando de alguns privilégios, e, por outro lado, de forças normais, de muito maiores efectivos, menos bem preparadas e com menores regalias. Era o dilema das massas indiferenciadas e das elites apuradas.
A criação das Tropas Pára-quedistas, necessariamente com carácter de corpo de forças especiais, de pequenos efectivos, mas altamente preparadas e gozando de alguns privilégios, mantendo-se muito maiores efectivos de forças normais, com menor preparação e menores regalias, trouxe o dilema referido ao primeiro plano da controvérsia. Sobretudo no Exército defendia-se o critério das massas indiferenciadas, o que fez com que várias tentativas de viabilização de forças suas especiais, como os sapadores de assalto e os caçadores especiais, tivessem abortado rapidamente. Só mais tarde, já depois das Tropas Pára-quedistas criadas e consolidadas, nasceram e conseguiram firmar-se, no Exército, como corpo de forças especiais, as magníficas Tropas de Comandos. Na Força Aérea, as forças especiais não causavam qualquer perturbação.
Também a criação das Tropas Pára-quedistas, prevista como devendo ter lugar na Força Aérea, chocou com este outro problema - porquê na Força Aérea e não no Exército? Multiplicaram-se os argumentos a favor de uma e de outra tese. Naturalmente que o Exército contrariava com vigor a ideia das Tropas Pára-quedistas pertencerem à Força Aérea. E, mesmo mesmo nesta Força Aérea, nem todos entendiam bem porque tropas, mesmo que transportadas ou deslocadas pelo ar, mas que combatiam no terreno, se deveriam integrar num ramo das Forças Armadas que apenas actuava no ar - no ar ou do ar contra a terra e o mar. Isto provocou, igualmente grande celeuma.
Mas o Ministro da Defesa Nacional acabou por fazer vigorar, através de um critério pragmático, a concepção da existência de um corpo de forças especiais - as Tropas Pára-quedistas - na Força Aérea. Critério fundamentado, em primeiro lugar, na indispensabilidade de forças especiais, dado ser impossível, por carência de matéria-prima humana e por falta de recursos financeiros, dar à totalidade dos efectivos uma preparação minimamente compatível com algumas importantes exigências da guerra moderna, fosse ela convencional, nuclear ou subversiva, acrescendo, no caso vertente, existirem missões que só as Tropas Pára-quedistas podiam executar. Critério fundamentado, em segundo lugar, na posição, ainda então solidamente vigente no Exército, ou mais precisamente nos seus Chefes, e não na Força Aérea, contra as forças especiais, o que aconselhava a colocação das Tropas Pára-quedistas nesta Força Aérea, que as acarinharia, e não naquele Exército, onde estariam condenadas a dissolução precoce. E, em 1955, as Tropas Pára-quedistas foram efectivamente criadas na Força Aérea, de começo ao nível limitado de um batalhão, tendo sido aceites, após muita discordância, privilégios simultaneamente necessários, suficientes e razoáveis.
As Forças Armadas Portuguesas passaram a conter um corpo de forças, hoje normal em todos os países avançados, valoroso no espírito e na acção - as magníficas Tropas Pára-quedistas.
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