O Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº21 (BCP 21) foi criado pela Portaria nº18464 de 8MAI61, no entanto só em 4 de Novembro, a designação "Batalhão" é referida na OS nº143. O BCP 21 foi o primeiro dos batalhões de pára-quedistas em África, tendo sido criado na sequência do levantamento insurrecional no Norte de Angola. Embarque a 14Mar61
Em 16 de Março de 1961, logo após os incidentes no norte de Angola, chega a Luanda a 1ª Companhia de Caçadores Pára-quedistas (CCP), logo seguida, em Abril pela 2ª CCP e um mês mais tarde, pela 3ª CCP. Os Pára-quedistas foram enviados com a finalidade de suster a sublevação, proteger as populações ameaçadas, limpar itinerários mais importantes e libertar as pequenas povoações e fazendas ainda cercadas pelos guerrilheiros da UPA. Procedeu-se à recuperação de Ambrizete-Lufico, Mamarosa, 31 de Janeiro, Bungo, Úcua-Pango, S.Salvador, Quipedro, Nambuangongo, Maria Tereza, Mucaba, Quicabo, Canda, Dange, Sacandica, Quitexe, Bembe-Songo, Tendele, Aldeia Viçosa e tantas outras povoações e postos administrativos. É durante o desenrolar desta ofensiva que as Tropas Pára-quedistas sofrem o seu primeiro morto em combate, em 24 de Abril de 1961: Soldado Pára-quedista JOAQUIM AFONSO DOMINGUES. O batalhão, inicialmente constituído por 3 CCP's, Comando e Secretaria, Conselho Administrativo, Manutenção e Dobragem de Pára-quedas, Canis e Serviço-Auto, teve que distribuir as suas sub-unidades pela Fortaleza de S.Miguel, pela Fazenda Belo Horizonte e pelo antigo campo de aviação (Hangar Velho).
A 1 de Junho de 1962, em cerimónia realizada na Base Aérea 9, em Luanda, presidida pelo SEA, foi entregue o Guião da Unidade e escolhida a divisa "GENTE OUSADA MAIS QUE QUANTAS". Para Dia da Unidade foi escolhido o dia 11 de Agosto, em memória do primeiro lançamento em campanha - QUIPEDRO, 11 de Agosto de 1961. Em Abril de 1964, as tropas Pára-quedistas mudam-se para novas instalações, o Quartel de Belas, a cerca de 12 Km a sul de Luanda. Dotado apenas de infra-estruturas consideradas essenciais, o novo aquartelamento, foi nos anos seguintes objecto de grandes melhoramentos, tornando-se a partir dos anos 70, na mais bela Unidade das Forças Armadas Portuguesas.
Quartel de Belas - BCP 21
A primeira Zona de Lançamento (ZL) utilizada pelos militares do BCP 21, foi uma área conhecida por "Campo de Golf". Já nos anos 70 e com a explosão urbanística de Luanda, optou-se pelas imediações do Autódromo de Luanda, a cerca de 10 Km do BCP 21.
Para além da sua actividade operacional, e no ambito das actividades recreativas e sociais, o BCP 21 apoiou a divulgação do pára-quedismo civil e participou em numerosos campeonatos desportivos, quer internos quer externos. É ainda no âmbito dessas actividades que em Agosto de 1965, dá à estampa o primeiro número do jornal "BOINA VERDE" - Boletim Mensal do BCP 21 e que mais tarde, a partir de 1970, passaria a ser o boletim de todos os pára-quedistas. A competência e eficiência com que os Páras do BCP 21 cumpriram as missões atribuídas, de 1961 a 1974, foi paga com a morte em combate de 47 pára-quedistas (33 praças, 9 sargentos e 5 oficiais). O seu esforço e o importante papel desempenhado no Teatro de Operações de Angola, está patente no reconhecimento prestado pela Nação, quando em 12 de Fevereiro de 1973, atribui ao BCP 21 a Medalha de Ouro de Valor Militar com Palma.
Condecoração 12Fev73
Comandantes do BCP 21
- TenCor PQ Alcínio Ribeiro
- TenCor PQ Rafael Ferreira Durão
- TenCor PQ Fausto Marques
- TenCor PQ Soares Cunha
- TenCor PQ Urbano Seixas
- TenCor PQ Heitor Almendra
- TenCor PQ Ramos Gonçalves
Galeria dos Comandantes
Actividade Operacional
Os graves incidentes de Março de 1961, no norte de Angola, accionaram a "luz verde" para a instalação das Tropas Pára-quedistas naquele território, e logo desde a sua chegada a actividade operacional foi o fulcro da vida do batalhão.
Em 11 de Agosto de 1961, a operação "QUIPEDRO" constituiu uma acção inédita, por ser a primeira vez que as Tropas Pára-quedistas Portuguesas foram empenhadas em combate, por meio de um lançamento em pára-quedas. O salto efectuou-se a partir de aviões Douglas C-54 Skymaster e em consequência da operação a 1ªCCP ocupa a povoação de Quipedro. A actividade operacional do batalhão, desenvolveu-se numa primeira fase na designada Zona de Intervenção Norte (ZIN), e caracterizou-se pelo empenhamento de uma CCP, por períodos de 4 a 10 dias, executando batidas e emboscadas.
Com a introdução, em 1963, dos helicópteros AL-III, processaram-se algumas modificações no tipo de actuação das Tropas Pára-quedistas: os helitransportes passam a ser utilizados com frequência. A partir de 1967, face à tentativa dos movimentos de libertação para a sua implantação no leste de Angola, a articulação do dispositivo das Tropas Pára-quedistas é alterada, obrigando que parte dos seus efectivos (normalmente uma companhia) permanecesse na Zona de Intervenção Leste (ZIL), em Ninda e Léua. O tipo de operações executado na ZIL continuou a ser a batida e a emboscada, com partida e recuperação de uma Base Táctica.
No final da década de 60, na sequência de um ida de militares portugueses à Rodésia do Sul (actual Zimbabwe) verifica-se a possibilidade de emprego de pisteiros em conjugação com tropas helitransportadas na conduta e execução de acções de contraguerrilha. A ideia é explorada pelas Tropas Pára-quedistas, e após a instrução de quatro militares (1 oficial e 3 sargentos) na Rodésia do Sul, passam a ser ministrados no BCP 21 Cursos de Pisteiros e Cursos de Instrutores-Monitores Pisteiros. Posteriormente a participação nos cursos seria aberta aos militares dos 3 ramos das Forças Armadas.
No sentido de obter o máximo de rendimento da utilização dos pisteiros, é criada no norte de Angola, a partir de 1972, o Centro Especial de Contra-Infiltração (CECI), posteriormente transformado em Unidade Táctica de Contra-Infiltração (UTCI). Composta por unidades mistas de helicópteros AL-III e pisteiros pára-quedistas, sediados no Aeródromo-Base nº1 -Toto, com uma vasta área atribuída entre os rios M'Bridge e Loge, tinha por missão sobrevoar diáriamente estas zonas em busca de pistas deixadas por grupos guerrilheiros. Uma vez detectados e confirmados os vestígios, iniciava-se uma operação de perseguição conjugando forças pára-quedistas, helicópteros e pisteiros. Este tipo de operações, chamada na gíria de "saltos de rã" foi responsável por alguns espectaculares êxitos nos últimos anos da guerra.
SA-330-PUMA
No principio dos anos 70, com o aparecimento do helicóptero SA-330-PUMA e a exploração das informações obtidas por equipas de pistagem, deu-se um salto qualitativo na conceptualização e execução das operações, especialmente na ZIN onde foi criada a unidade de contra-infiltração.
O BCP 21 desenvolveu a sua actividade operacional ofensiva, até meados de Setembro de 1974, culminando a última operação de vulto com o desmantelamento de um importante grupo guerrilheiro afecto à FNLA. Após os acordos de cessar fogo assinados entre o poder político português e os representantes dos 3 movimentos de libertação - MPLA, FNLA e UNITA - a actividadde operacional assume um carácter defensivo.
Como reserva do Comando-Chefe das Forças Armadas de Angola (CCFAA), o BCP 21 é empenhado, no período que antecede estes acordos, com a missão de estancar as grandes infiltrações de guerrilheiros através dos países limitrofes. Com esta desesperada acção, pretendiam os movimentos de libertação, ocupar e consolidar no terreno, posições que não tinham logrado conquistar durante os 14 anos de guerrilha.
Regresso
Com a entrada dos guerrilheiros nos grandes centros populacionais, surgem os confrontos de carácter sindical, rácicos e ideológicos. A criminalidade e as acções hostis para a população de origem europeia aumentam vertiginosamente. A instabilidade social alastra a todo o território, provocando grandes movimentos internos, tanto de população autóctones, como de origem europeia que se vê cada vez mais apreensiva no que respeita à segurança pessoal e de bens.
Os responsáveis pela acção governativa, representantes máximos de Portugal em Angola sucedem-se, fruto de pressões políticas e de jogos de bastidores. Entre Junho de 1974 e Novembro de 1975, cinco militares passam pela chefia do Governo e Comando das Forças Armadas em Angola, o último dos quais, Almirante Leonel Cardoso, teve como Comandante Adjunto o General Graduado Pára-quedista Heitor Almendra, antigo Comandante do BCP 21.
O território encontra-se dividido em vários sectores, influenciados pelos três movimentos de guerrilheiros, os confrontos entre eles vão-se generalizando. Neste contexto as Forças Armadas Portuguesas iniciam a elaboração dos planos de retracção do dispositivo militar e de evacuação final dos militares, assim como dos civis que manifestem essa vontade. Durante este período conturbado as missões executadas pelas tropas pára-quedistas foram muito diversificadas.
Em Agosto de 1975, o BCP 21 tinha duas CCP na Base Aérea (e Aeroporto) e uma CCP em Belas (Quartel). Estas companhias cumpriam missões de segurança nas Unidades (BCP 21 e BA9), no Palácio do Governo, nas Messes Militares e no Porto de Luanda. Por diversas ocasiões, grupos de combate pára-quedistas e, mesmo companhias no seu efectivo máximo, são enviadas para o interior, em apoio das colunas do Exército que eram impedidas de atravessar as zonas de influência dos movimentos de libertação.
Em Setembro de 1975, a última CCP retira das magníficas instalações do BCP 21, em Belas, que passam a ser o centro de acolhimento aos denominados "retornados". Aí chegam a estar alojados cerca de 15.000 portugueses.
Em Outubro chega ao Aeroporto de Luanda uma CCP, vinda de Lisboa, sem que tenha desempenhado qualquer papel de relevo no processo de descolonização.
Último arrear da Bandeira - 10Nov75 Aproximando-se o dia da independência, as Tropas Pára-quedistas saem da BA e instalam-se na Fortaleza de S. Miguel. Neste Local ir-se-ía proceder ao último arrear da Bandeira Nacional em Angola.
Em 10 de Novembro de 1975, último dia da soberania portuguesa em Angola, às 15H32 a Bandeira Nacional é arreada na Fortaleza de S.Miguel. Terminado o cerimonial oficial, uma coluna militar é formada com destino à Base Naval, na Ilha de Luanda, os Paras embarcam no navio "NIASSA", ancorado ao largo da capital, e regressam a Portugal.
O BCP 21 chega a Portugal a 23 de Novembro de 1975.
Vive-se um clima de extrema instabilidade política e militar. A maioria dos oficiais Pára-quedistas, deixara a unidade de Tancos a 11 de Novembro e apresentara-se no EMFA. Os Pára-quedistas que ficaram em Tancos sublevaram-se. À chegada do BCP 21 a Lisboa, o General Morais da Silva, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, faz chegar ao TenCor Almendra instruções em que o põe a par da situação e lhe ordena para não ir para Tancos e se deslocar com o Batalhão para a Base de Cortegaça onde pretendia activar uma nova Base de Pára-quedistas. Apesar de tentativa dos elementos sublevados de obterem o apoio dos militares do BCP 21 a unidade permanece unida e disciplinada, desembarca e segue para a Ota para preparar o deslocamento para Cortegaça. Entretanto desencadeia-se o 25 de Novembro, os elementos sublevados ocupam várias Bases Aéreas mas face à falta de apoio e ao desenrolar da situação acabam por se entregar em Tancos a 28 de Novembro. A Base de Cortegaça não chega a ser activada mas em seu lugar é reactivada a Base de Tancos e é feita a reorganização das Tropas Pára-quedistas.
Em Angola fica a guerra civil.
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